Análise de Entrevistas – Currículo de um Espaço Escolar




Esse texto foi produzido junto a colega Clarissa Scholz e tem como base de análise nossas entrevistas realizadas na 12ª semana e os materiais de estudos propostos nas duas últimas semanas.


A primeira ideia que vem nos à cabeça ao iniciar essa reflexão, é a de que o currículo vai muito além da simples organização de conteúdos, não se tratando apenas de uma questão simplesmente técnica de padronização do conhecimento que deverá ser desenvolvido. Ao levantarmos questões como: “Para que ensinar? A quem ensinar? O que ensinar? Como ensinar?”, nos damos conta de que, embora esteja baseado em referenciais teóricos, o processo que envolve o desenvolvimento do currículo é cultural e social, portanto, não é neutro!

As teorias críticas baseadas na análise Marxista, afirmam, inclusive, que o currículo é um instrumento de reprodução dos interesses capitalistas, pois, por meio dele são transmitidas e reproduzidas as ideias que sustentam o sistema de classes. Sob essa análise, podemos afirmar que o desenvolvimento do currículo não é apenas cultural, pois também envolve relações de poder. Essas relações não se tratam apenas de professor x aluno e/ou professor x gestor pedagógico, mas, principalmente, das relações de poder que vão além da escola. Neste pensar, podemos afirmar que o currículo, de fato, não se restringe apenas a uma questão de conteúdos, sendo, também, uma questão social e política. 

As teorias Pós-Críticas vêem além da questão classista, as questões culturais, de gênero e étnicas. É importante perceber como a escola utiliza a linguagem e os valores da classe economicamente dominante, que também são os valores da sociedade patriarcal machista, branca e européia, o que acaba por excluir da escola, logo no Ensino Fundamental, grande parte da população que não tem domínio dessa linguagem e valores, ou seja, quem não tem boas condições econômica, as mulheres, quem não é branco ou quem não se encaixa nos padrões heteronormativos da sociedade, especialmente, no Brasil.

Analisaremos agora duas realidades distintas de organização curricular, a de uma escola privadae de uma escola pública

A entrevista realizada pela Clarissa foi numa escola da rede privada de Caxias do Sul (RS) e apesar de utilizar a Base Curricular obrigatória e pertencer a uma rede tradicional de ensino privado confessional católico, a escola que entrevistei possui total flexibilidade e abertura às ideias que venham a contribuir para a formação do aluno como protagonista de seu processo de aprendizagem. De acordo com a coordenadora pedagógica, a ideia é oferecer aos alunos conteúdos e metodologias que façam sentido a eles, sempre buscando atingir uma concepção de “formação integral”. Por isso, diversas atividades “além dos muros da escola” são oferecidas ao longo do ano, sempre levando em consideração o que ao alunos se identificam, valorizando a ampliação de seus horizontes. De fato, percebe-se aí a excelente qualidade do ensino oferecido nas escolas privadas! 

Na escola pública, onde eu realizei a entrevista, o documento norteador do currículo escolar, para os anos iniciais do Ensino Fundamental ainda é, até o final deste ano, o Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC). A entidade mantenedora da escola não tem em seu website informações sobre a concepção de currículo a ser adotada na rede municipal de ensino. As escolas se baseiam numa grade curricular organizada em 2017 com a consultoria da Universidade de Caxias do Sul (UCS) onde estão descritas as habilidades e conteúdos a serem desenvolvidos em cada ano escolar. Mas, não houve acesso a este documento, referente aos anos iniciais do Ensino Fundamental, pois uma das Coordenadoras Pedagógicas do município, a que atende na escola onde foi feita a entrevista, não pode localizar o documento para mostrá-lo. A Coordenadora afirmou que a partir de 2019 o documento que norteará o currículo das escolas municipais será o Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas, atualmente, o currículo da escola está organizado com base nos planejamentos dos professores, elaborado pelo grupo de professores de cada ano do Ensino Fundamental, ou seja, não há uma concepção de currículo válida para toda a escola, até onde possível perceber. 

Para finalizar, por hora, esta reflexão pensamos que a “Base Curricular obrigatória” deve levar em conta o envolvimento dos alunos nas questões contemporâneas. Não queremos dizer com isso, que é necessário deixarmos questões e/ou referências clássicas de fora, mas, precisamos adaptá-las a realidade. Esse processo deve estar em movimento o tempo todo, sempre que possível e sempre que sentir-se necessário. Não podemos exigir que os estudantes de hoje estudem os mesmos conteúdos da mesma maneira que estudamos há 20 anos. O currículo não pode ser estático, deve haver flexibilidade e participação da comunidade escolar. A transformação social jamais irá acontecer enquanto tivermos um currículo estático, pronto, "encaixotado" e por fora da contemporaneidade. Acreditamos que o principal desafio dos gestores educacionais, envolvidos com a estruturação curricular, é o de repensar(se), reinventar(se) e reconstruir(se).

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